A urbanização tende a reduzir a fecundidade (número de filhos por mulher), e isso é um fenômeno amplamente observado em várias regiões do mundo. Diversos fatores ligados ao processo de urbanização influenciam essa tendência de queda na fecundidade:
Fatores que contribuem para a redução da fecundidade nas áreas urbanas
- Acesso à educação: Nas áreas urbanas, há maior acesso à educação, especialmente para as mulheres. Isso frequentemente leva a um aumento da idade ao primeiro casamento e ao adiamento da maternidade, o que reduz o número de filhos ao longo da vida.
- Acesso a métodos contraceptivos: Cidades tendem a ter melhor infraestrutura de saúde e maior acesso a métodos contraceptivos, permitindo que as pessoas tenham mais controle sobre a reprodução e planejem melhor o número de filhos.
- Custo de vida: Em áreas urbanas, o custo de vida é geralmente mais alto, o que desincentiva as famílias a terem muitos filhos, já que a criação e educação das crianças envolvem despesas significativas.
- Participação feminina no mercado de trabalho: A urbanização está associada a um aumento na participação das mulheres no mercado de trabalho. Quando as mulheres estão mais inseridas no mercado de trabalho, tendem a priorizar a carreira, resultando em famílias menores.
- Mudança nos padrões culturais: A urbanização também está ligada a mudanças culturais, onde os papéis tradicionais de gênero e as expectativas sobre a maternidade se tornam menos rígidos. As mulheres em áreas urbanas muitas vezes têm aspirações que vão além da maternidade, o que pode reduzir a fecundidade.
- Acesso a serviços de saúde: Em cidades, há maior disponibilidade de serviços de saúde reprodutiva, o que ajuda a reduzir a mortalidade infantil e dá às famílias maior confiança em ter menos filhos, já que a probabilidade de sobrevivência é maior.
- Estilo de vida urbano: A vida nas cidades frequentemente oferece diferentes oportunidades e formas de lazer, promovendo valores e prioridades que podem competir com o desejo de ter muitos filhos.
Evidência Estatística
Os dados globais indicam que países e regiões mais urbanizados tendem a ter taxas de fecundidade mais baixas em comparação com áreas rurais. Esse padrão é observado tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento.
Portanto, a urbanização, ao proporcionar melhor acesso à educação, saúde, emprego e uma mudança de prioridades sociais, geralmente resulta em uma queda nas taxas de fecundidade.
Estudos relacionados
Existem vários estudos e relatórios que comprovam a relação entre urbanização e a redução da fecundidade. Esses estudos analisam dados populacionais de diferentes países e mostram que, à medida que a urbanização avança, as taxas de fecundidade tendem a diminuir. A seguir, alguns dos principais estudos e fontes que abordam essa correlação:
1. Relatório do Banco Mundial
O Banco Mundial produz relatórios periódicos que mostram como a urbanização está relacionada à queda da fecundidade. Em muitas partes do mundo, à medida que as populações se mudam para as cidades, os indicadores de fecundidade caem. O relatório “World Development Report 2015: Mind, Society, and Behavior” do Banco Mundial discute como as mudanças no comportamento e nas decisões familiares, influenciadas pela urbanização, impactam a fecundidade.
2. Relatórios da ONU (Divisão de População)
Os relatórios da Divisão de População das Nações Unidas frequentemente discutem a relação entre urbanização e padrões de fecundidade. O relatório “World Urbanization Prospects” (Perspectivas de Urbanização Mundial) e “World Fertility Patterns” (Padrões de Fecundidade Mundial) mostram uma relação clara entre o aumento da urbanização e a queda das taxas de fecundidade. Esses relatórios mostram que, em geral, países com maior urbanização apresentam taxas de fertilidade mais baixas.
3. Estudo da UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas)
O UNFPA, em seu relatório “The State of World Population 2019”, aponta que a urbanização global tem impacto significativo sobre a dinâmica de fecundidade. O estudo revela que as áreas urbanas oferecem mais acesso a serviços de saúde reprodutiva e educação, o que, por sua vez, contribui para a redução das taxas de natalidade.
4. Estudo de Dyson e Moore (1983)
Dyson e Moore publicaram um estudo seminal intitulado “On Kinship Structure, Female Autonomy, and Demographic Behavior in India” que aborda como o desenvolvimento socioeconômico e a urbanização afetam a fecundidade, com foco na autonomia feminina e como ela impacta as decisões reprodutivas. Este estudo, embora focado na Índia, oferece insights aplicáveis globalmente, mostrando que áreas urbanas, com maior educação e autonomia para as mulheres, tendem a ter menores taxas de fecundidade.
5. Estudos do Instituto Guttmacher
O Instituto Guttmacher, focado em saúde reprodutiva, publicou vários relatórios mostrando que a urbanização está correlacionada com o maior uso de contraceptivos e a redução da fecundidade. Um relatório intitulado “Adding It Up: The Costs and Benefits of Investing in Sexual and Reproductive Health” demonstra como as populações urbanas têm maior acesso a serviços de planejamento familiar e, como resultado, menores taxas de fecundidade.
6. Estudos de Becker e Lewis (1973)
Gary Becker e H. Gregg Lewis, em seu artigo “On the Interaction between the Quantity and Quality of Children”, discutiram a transição demográfica no contexto da urbanização, mostrando como as famílias urbanas tendem a investir mais na “qualidade” (educação e saúde) dos filhos, resultando em uma escolha por ter menos filhos. O trabalho deles é frequentemente citado em estudos econômicos sobre fecundidade.
7. Pesquisas Demográficas Regionais
Estudos demográficos realizados em diversas regiões do mundo, como na América Latina e na África Subsaariana, indicam que as áreas urbanas dessas regiões apresentam taxas de fecundidade menores do que as áreas rurais. Um exemplo é o estudo “Fertility Decline in the Developing World: A New Era” (2002), de John Bongaarts, que discute como os padrões urbanos estão ligados à queda da fecundidade nos países em desenvolvimento.
8. Estudo de Laura B. Shrestha (2003)
Shrestha publicou um estudo intitulado “Population Aging in Developing Countries” onde também explora a relação entre urbanização e transição demográfica. Ela aponta que a urbanização contribui para a diminuição da fecundidade à medida que as populações urbanas passam por mudanças sociais e econômicas que afetam as decisões reprodutivas.
Esses estudos fornecem uma sólida base empírica para a afirmação de que a urbanização contribui para a redução da fecundidade. As evidências são consistentes em diferentes contextos geográficos e culturais, indicando que a urbanização promove mudanças nas estruturas familiares e nas preferências de fecundidade.