Ludwig von Mises, um dos principais teóricos da Escola Austríaca de Economia, tem uma visão crítica sobre o aumento da base monetária, que está alinhada com os princípios fundamentais dessa escola. Mises acreditava que a expansão da base monetária não cria riqueza real, mas sim distorce os mercados e leva a ciclos econômicos prejudiciais, com o risco de inflação e bolhas especulativas.
Aqui estão os principais pontos da crítica de Mises ao aumento da base monetária:
1. Inflação Monetária
Para Mises, o aumento da base monetária é equivalente à inflação monetária, que ele define como o aumento da oferta de dinheiro sem um aumento correspondente na produção de bens e serviços. Mises argumentava que o aumento da base monetária inevitavelmente deprecia o valor da moeda, levando a preços mais altos para bens e serviços, o que é a essência da inflação.
Segundo Mises, a inflação monetária é uma forma disfarçada de confisco de riqueza, pois diminui o poder de compra do dinheiro que as pessoas já possuem. Quem recebe o novo dinheiro primeiro (como bancos, empresas ou o governo) se beneficia, mas à medida que o dinheiro se espalha pela economia, os preços sobem e todos os demais sofrem com a perda de poder aquisitivo.
2. Teoria dos Ciclos Econômicos
Mises é conhecido por sua Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos. Ele argumentava que a expansão da base monetária, especialmente através da criação de crédito artificial por meio dos bancos centrais, leva a uma alocação errada dos recursos na economia. Em outras palavras, a política monetária expansionista distorce os sinais de preço no mercado, fazendo com que empresas e investidores tomem decisões erradas.
O aumento da base monetária, segundo Mises, faz com que os bancos emprestem mais dinheiro a taxas de juros artificialmente baixas, estimulando investimentos que não seriam viáveis em condições normais de mercado. Isso cria um “boom” artificial, ou uma bolha, que eventualmente estoura quando a economia não consegue sustentar esses investimentos. O resultado é uma crise econômica ou recessão.
3. Efeitos Redistributivos
Mises também destaca os efeitos redistributivos da expansão da base monetária. Quando o banco central aumenta a base monetária, o novo dinheiro não entra na economia de maneira uniforme. Ele é distribuído por meio de certos canais, como o sistema bancário ou por meio de compras de ativos financeiros, beneficiando inicialmente os setores que estão mais próximos da fonte de criação de dinheiro, como bancos, grandes empresas e o governo.
Este fenômeno, conhecido como o Efeito Cantillon (baseado no economista Richard Cantillon), implica que a criação de dinheiro redistribui riqueza de maneira desigual. Aqueles que recebem o novo dinheiro primeiro podem gastar antes que os preços subam, enquanto aqueles que o recebem mais tarde sofrem com preços mais altos, mas sem o benefício do dinheiro recém-criado. Isso, segundo Mises, leva a uma distorção injusta na economia e exacerba a desigualdade de riqueza.
4. Criação Artificial de Riqueza
Para Mises, o aumento da base monetária dá a ilusão de criação de riqueza, mas não cria riqueza real. A verdadeira riqueza, para ele, advém do aumento da produção de bens e serviços. Quando o dinheiro é criado sem um aumento correspondente na produção, isso apenas infla os preços, criando uma bolha especulativa sem base na realidade econômica.
Ele acreditava que as políticas monetárias expansionistas distorcem a relação entre oferta e demanda e enganam os investidores e consumidores sobre a verdadeira saúde da economia.
5. Incapacidade de Controlar os Resultados
Mises argumentava que, uma vez iniciada a expansão da base monetária, os efeitos sobre a economia são imprevisíveis e incontroláveis. Embora os bancos centrais possam tentar gerenciar a oferta de moeda e o crédito, Mises acreditava que as complexidades da economia significavam que o banco central não poderia prever adequadamente todas as consequências de suas ações.
Em sua visão, uma vez que a inflação monetária começa, é muito difícil pará-la sem causar uma recessão. Isso ocorre porque o mercado se ajusta aos níveis artificiais de crédito e, quando o banco central tenta desacelerar a expansão, a economia enfrenta um ajuste doloroso, conhecido como “recessão corretiva”.
6. O Perigo da Hiperinflação
Mises também alertou para o risco de hiperinflação como consequência extrema do aumento desenfreado da base monetária. Ele argumentava que, se o governo continuar a expandir a oferta de moeda sem controle, pode haver uma perda total de confiança na moeda. Isso poderia levar a um colapso do sistema monetário, como aconteceu em casos históricos como a Alemanha de Weimar e o Zimbábue.
Conclusão:
Ludwig von Mises via o aumento da base monetária como uma fonte de distorção econômica e uma ameaça à estabilidade de longo prazo. Em sua visão, a criação excessiva de moeda gera inflação, distorce os sinais de mercado, cria ciclos econômicos insustentáveis e redistribui riqueza de maneira injusta. Para Mises, a solução era permitir que o mercado funcionasse livremente, com uma moeda sólida, preferencialmente atrelada a um padrão como o ouro, que limitaria a capacidade dos governos de inflacionar a oferta de dinheiro.
A crítica de Mises ao aumento da base monetária reflete a visão austríaca de que o controle monetário excessivo pelo governo e pelos bancos centrais é prejudicial à economia, levando a crises e instabilidades que poderiam ser evitadas em um sistema de livre mercado com uma moeda estável.