O Agostinianismo é uma corrente filosófica e teológica derivada das ideias de Santo Agostinho de Hipona (354–430). Ele foi um dos primeiros e mais influentes filósofos e teólogos cristãos, e suas ideias moldaram profundamente a teologia ocidental e a filosofia medieval. Abaixo estão os principais pontos das suas ideias:
1. Teologia da Graça
- Agostinho argumenta que a salvação dos seres humanos é inteiramente dependente da graça divina. A humanidade, após o pecado original de Adão, é radicalmente corrompida e incapaz de alcançar a salvação sem a intervenção direta de Deus. A graça é o dom gratuito de Deus, sem o qual ninguém pode ser salvo.
- Conceito-chave: Predestinação. Agostinho desenvolveu a ideia de que Deus já sabe quem será salvo (os eleitos) e quem não será, mas isso não anula o livre-arbítrio humano.
2. Pecado Original
- Agostinho foi um dos primeiros a desenvolver a doutrina do pecado original de forma sistemática. Ele sustentava que, por causa do pecado de Adão e Eva, todos os seres humanos nascem em um estado de pecado e condenação. O pecado original é transmitido de geração em geração, e apenas a graça divina pode restaurar o ser humano.
- Conceito-chave: Condição caída da humanidade. Todos os seres humanos nascem com a marca do pecado e precisam da redenção oferecida por Cristo.
3. Livre-arbítrio e Responsabilidade
- Embora Agostinho enfatizasse a graça divina e a predestinação, ele também acreditava no livre-arbítrio humano. Os seres humanos têm a capacidade de escolher entre o bem e o mal, mas, sem a graça de Deus, tendem sempre ao pecado. Para Agostinho, o livre-arbítrio sem a ajuda divina está corrompido e inclinado ao mal.
- Conceito-chave: Liberdade no bem. A verdadeira liberdade só é possível quando o ser humano age de acordo com a vontade de Deus.
4. Iluminação Divina
- Na filosofia agostiniana, o conhecimento verdadeiro só pode ser alcançado através da iluminação divina. Ele adaptou essa ideia do platonismo, afirmando que a mente humana é incapaz de alcançar a verdade por si só, e Deus, como fonte de toda a verdade, ilumina a mente humana para que ela possa compreender as coisas corretamente.
- Conceito-chave: A razão humana, embora importante, depende da luz de Deus para acessar a verdade e o conhecimento.
5. Teoria das Duas Cidades
- No seu livro “A Cidade de Deus”, Agostinho apresenta a ideia de duas cidades metafóricas: a Cidade de Deus e a Cidade dos Homens. A Cidade de Deus é composta por aqueles que vivem de acordo com a vontade de Deus e alcançarão a salvação. A Cidade dos Homens, por outro lado, é composta por aqueles que vivem de acordo com os prazeres mundanos e o egoísmo.
- Conceito-chave: História redentora. A história da humanidade é a história do conflito entre essas duas cidades, e a Cidade de Deus triunfará no final dos tempos.
6. Visão sobre o Mal
- Agostinho desenvolveu uma teoria importante sobre o mal, conhecida como a teoria do mal como privação (malum privatio). Ele argumenta que o mal não é uma entidade em si mesma, mas a ausência ou privação do bem. Deus é absolutamente bom e não criou o mal; o mal surge quando os seres criados se afastam do bem (Deus).
- Conceito-chave: O mal é a falta de bondade e não uma criação positiva de Deus.
7. Tempo e Eternidade
- Em suas reflexões filosóficas sobre o tempo, Agostinho argumentou que o tempo é uma criação de Deus e existe apenas dentro da criação. Para ele, o tempo é uma experiência humana que está diretamente ligada à percepção da mudança. Deus, por outro lado, está fora do tempo, vivendo na eternidade, onde tudo é simultâneo.
- Conceito-chave: O tempo é uma criação de Deus, e Ele existe fora do tempo, na eternidade.
8. Platonismo Cristão
- Agostinho foi profundamente influenciado pelo platonismo, especialmente pelo pensamento de Platão e Plotino. Ele adaptou a teoria platônica das Formas (Ideias) ao cristianismo, argumentando que as Formas existem na mente de Deus. Assim, as ideias eternas e imutáveis de Platão são incorporadas à ideia de que Deus é a fonte de todas as realidades ideais e perfeitas.
- Conceito-chave: A realidade última é espiritual, e as coisas materiais são imperfeitas e transitórias.
9. A Religião como Experiência Interior
- Agostinho enfatizou a importância da experiência interior na vida religiosa. A verdadeira conversão e relação com Deus não dependem apenas de rituais externos ou obediência à lei, mas de uma transformação profunda do coração e da alma. Ele acreditava que Deus está presente dentro do indivíduo e que a busca pela verdade é, em última análise, uma jornada interior.
- Conceito-chave: A introspecção é fundamental para entender Deus e a verdade.
10. Igreja e Sacramentos
- Agostinho acreditava na importância da Igreja como a comunidade dos fiéis e como mediadora da graça divina. Ele desenvolveu uma doutrina sobre os sacramentos, especialmente o batismo, como meios através dos quais Deus transmite a graça aos seres humanos. Ele também defendia a autoridade da Igreja em questões de fé.
- Conceito-chave: A Igreja é a comunidade visível dos eleitos, e os sacramentos são instrumentos de salvação.
Resumo dos conceitos principais do Agostinianismo:
- Graça divina como central para a salvação.
- Pecado original que afeta toda a humanidade.
- Livre-arbítrio inclinado ao mal sem a ajuda da graça.
- Iluminação divina como fonte de todo o conhecimento verdadeiro.
- Cidade de Deus versus Cidade dos Homens como metáfora da história humana.
- Mal como privação do bem.
- Tempo como uma criação de Deus.
- Platonismo cristão com ênfase nas realidades espirituais e eternas.
- A experiência interior como caminho para a verdade e a relação com Deus.
Essas ideias formaram a base de grande parte da teologia cristã medieval e influenciaram pensadores posteriores como Tomás de Aquino e Martinho Lutero.